O conceito de simplicidade prolonga-se na história ocidental. Está associado a valores como prudência, moderação, temperança, equilíbrio, serenidade. Permanece como uma espécie de utopia que mobiliza indivíduos, grupos e sociedades inteiras através dos tempos. Como ideal ético e político, ela fecundou as reflexões de muitos pensadores e foi requisitada como guia prático na busca de uma vida mais intensa e feliz. Se viver é a arte das interações, a simplicidade é um modo de existir. Faz parte da dietética dos cuidados, um regime filosófico cujo benefício é a beleza existencial, traduzida pelos dois conselhos gregos que amparam a argumentação desta obra: “nada em excesso” e “conhece-te a ti mesmo”. Dois lemas. Dois testemunhos. Duas admoestações. Para ontem e para hoje, fundam a filosofia do cotidiano, essa necessária atividade reflexiva ininterrupta que vê na simplicidade a virtude mais urgente. Valor intrínseco, é regime de zelo consigo mesmo. Arte de viver destinada ao bom uso dos prazeres e à satisfação adequada das necessidades vitais. Refletir sobre ela é pensar o ser humano que queremos ser. Nossa forma de relação com os objetos dispostos para nosso uso no mundo, com a natureza vinculada ao nosso cuidado e com as gerações futuras sob nossa responsabilidade. Ao elogiar a simplicidade, este livro não apenas recorda a importância teórica do conceito, mas quer ressignificá-lo.
Jelson Oliveira (Autor), Antonio Valverde (Prefácio)
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