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É muito comum, em nosso cotidiano, utilizarmos a palavra máscara de forma depreciativa. Expressões como "a máscara cai" ou "tire a máscara" pressupõem, antes de tudo, uma ontologia do sujeito; um sujeito que, dotado de uma verdade sobre si mesmo, vive na aparência, na hipocrisia ou na mentira. "Retirar a máscara" seria, então, esse momento em que o sujeito se apresenta em sua essencialidade, em sua verdade, e, portanto, em sua constância, afastando-se de si a mentira de ser um Outro que não ele mesmo. Ora, certamente, quando estamos falando em as máscaras de Artaud, nosso entendimento afasta-se dessa utilização coloquial. As máscaras, no sentido em que atribuímos ao poeta maldito, não são uma camada supérflua em que o indivíduo utiliza para se esconder, mas a própria condição para expor, profundamente, qualquer impossibilidade da existência de um indivíduo constante. Isto é, a máscara é a própria condição do ser que se coloca como ser-devir, como ser em movimento. Nesse sentido, a máscara não é apenas uma indumentária que cobre o rosto, mas o que há de mais profundo no ser, já que não temos, em Artaud, esse indivíduo metafisicamente constituído a partir de uma identidade fixa e inalterável, esse ser a priori ao viver.

 

Renan Pavini (Autor)

 

As Máscaras de Artaud

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